Tenho observado as pessoas e suas certezas. São tantas as certezas, convicções e verdades que se trombam por aí.... Se trombam nas redes sociais, nos grupos de whatsapp, nas reuniões familiares e, claro, se trombam também nas empresas.
São certezas recheadas de boas intenções. Mas se trombam. Vão de encontro umas das outras. Sim. É fato. E é claro que as outras certezas diferentes das minhas é que estão equivocadas (acredito que este deva ser o pensamento de todos, ou quase todos) ...
Trazer à consciência essa percepção um pouco mais ampliada de que todos têm suas certezas e que elas se trombam por aí deveria, no mínimo, abrir espaço para aumentar as possibilidades de compreensão... e não de tantas certezas.
Eu te convido a ampliar sua percepção das coisas e refletir um pouco mais sobre este fenômeno que tem causado muitas confusões na vida de muita gente. Para começar eu trago aqui um fenômeno psicológico que chamamos de “percepção seletiva”. Trata-se do fato de que todos nós escolhemos, de forma consciente ou inconsciente, focar a nossa atenção sobre o que vemos, ouvimos e prestamos atenção de acordo com nossas crenças, expectativas e valores pessoais. Temos um filtro no nosso cérebro para que nossa atenção esteja focada nos eventos e elementos que vão confirmar a nossa própria visão de mundo. Os demais elementos são ignorados pelo nosso cérebro, que sempre procura confirmar o que acreditamos.
“A percepção está parcial ou totalmente determinada pela rotina em que se fixam estímulos com necessidades”
-Joseph Thomas Klapper-
Se temos este filtro no nosso cérebro, como podemos ter a convicção de que realmente estamos tendo uma leitura precisa da realidade? Será que muitas vezes não estamos concluindo fatos e ideias incorretamente? O quanto a percepção seletiva pode afetar tanto a nossa vida quanto a das outras pessoas ao nosso redor?
Ter a consciência deste fenômeno nos ajuda a estarmos mais atentos aos fatos que podem se apresentar à nossa frente e contribuir com conclusões menos tendenciosas e mais abrangentes.
Lembro que nossas emoções também estão diretamente ligadas ao fenômeno deste filtro seletivo que todos temos e que determina o que e como as informações entrarão no nosso cérebro. Estarmos conscientes das nossas emoções nos ajudará também a termos uma maior amplitude de percepção.
Como tudo na vida tem prós e contras, podemos dizer que a percepção seletiva nos ajuda a filtrar as informações importantes e relevantes, evitando uma sobrecarga de estímulos, por exemplo. Saber que as pessoas possuem este filtro, também nos ajuda a preparar uma abordagem adequada para a realização dos nossos negócios, como por exemplo, desenvolver uma boa campanha de marketing. No entanto, este filtro pode fazer com que percamos informações muito valiosas em várias situações para uma tomada de decisão, ou até mesmo, uma análise ou conversa com pessoas importantes para nossos relacionamentos.
Podemos ignorar informações valiosas para nossos relacionamentos, por exemplo, pois tendemos a apenas perceber o que é interessante a fim de atendermos nossas expectativas em relação ao outro e também a nós mesmos.
Se isso acontece em todos os momentos, precisamos entender o quanto nossos filtros podem impactar a maneira com a qual conduzimos nossos negócios, nos relacionamos com nossa família, com nossos chefes, pares e subordinados.
Penso o quanto é fundamental que os Líderes estejam conscientes deste fenômeno. Uma imagem positiva ou negativa que o líder tenha de uma pessoa do seu time pode condicionar a maneira como este líder avalia todas as entregas deste colaborador. Um colaborador que, em princípio, traz uma imagem negativa por algum acontecimento passado ou emoção causada em determinado momento, pode anular a possibilidade de uma avaliação positiva de alguma atividade inovadora e ou de sucesso, por exemplo.
Acredito que saber que temos um filtro, inconsciente e às vezes até mesmo consciente, já é o primeiro passo para tentarmos ser mais justos, ouvir mais, ter mais empatia e ser mais assertivo nos comportamentos e pensamentos.
Ao estar consciente disso, consigo parar e respirar antes de tirar conclusões precipitadas quando escuto alguém falar algo que, sem pensar, eu julgaria como bobagem, ingenuidade ou até mesmo como maldade. Dar uma chance para entender a complexidade de como funciona nossa mente e nossas emoções fará a diferença em nossos relacionamentos e conquistas.
Quantas chances desperdicei? O que eu queria provar? Quais explicações eu precisei dar a mim mesma?
Quantas chances deixarei de desperdiçar daqui para frente? Parar e respirar para trazer mais amplitude de percepção é o desafio diário. Eu descobri recentemente que este é mais um segredo para ampliação da nossa consciência.
A Legião Urbana já sabia disso:
Tenho andado distraído
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso
Só que agora é diferente
Estou tão tranquilo e tão contente
Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo mundo
Que eu não precisava provar nada pra ninguém
... Eu queria sempre achar explicação para o que eu sentia
... Fiz questão de esquecer que mentir para si mesmo é sempre a pior mentira
Mas não sou mais tão criança a ponto de saber tudo
Já não me preocupo se eu não sei por quê
Às vezes o que eu vejo quase ninguém vê
... O infinito é realmente um dos deuses mais lindos.
(Trecho da Canção de Legião Urbana – Quase Sem Querer)
Lilian Quatrocchi
Ago 2021
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