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  • Foto do escritorLilian Quatrocchi

Caos Sweet Caos


Eu costumo brincar que não vejo a hora de descobrir o que significa esse tal de home-office que tanto escuto falarem por aí, pois o que eu tenho chamado o que muitos e muitas estão vivendo é de caos-office mesmo. E não foi só o escritório físico que mudou não. Tenho percebido que as relações de trabalho também têm mudado. Percebo as pessoas tentando se adaptar ao caos, até porque, talvez, elas não consigam achar outra alternativa. Então, melhor tratar de me adaptar a esta maluquice do meu dia-a-dia, sempre com a expectativa de que amanhã será melhor, que tudo vai passar, que basta mais um dia de paciência, de resiliência.

Atualmente percebo que parece ser anormal quem está conseguindo dar conta de tudo com leveza. Hoje parece que ser feliz é ser anormal. Anormal, atualmente, é conseguir curtir a família, anormal é ter tempo para coisas além do “trabalho”. Anormal é ter tempo, inclusive, para não se fazer nada.

Normal é se fazer de vítima da carga-horária, do líder, do time que não está unido, das pessoas que estão cada uma por si e no lema “salve-se quem puder”. Você é normal quando publica a quantidade absurda de e-mails que recebeu em um só dia assim como o número de reuniões virtuais agendadas das oito às vinte horas. Você é normal quando curte este tipo de publicação pois se enxerga nela e pode falar com mais conforto: “Ah, como é bom não estar só nesta situação! ” Basta navegar um pouco nas redes sociais, ou conversar com pessoas que estão no meio corporativo, que esta situação fica bastante aparente.

Converso, atendo e vejo publicações de pessoas, das mais variadas empresas e segmentos, sofrendo deste mesmo mal. Muitas parecem felizes em suas posições de vítimas. Outras parecem angustiadas contando os anos que ainda precisarão viver neste esquema. Tentando se adaptar. Vendendo a alma. Vendendo a saúde. Sobrevivendo.

O home sweet home deu lugar ao caos sweet caos. Aquele local que essas mesmas pessoas chegavam à noite, após o dia repleto de reuniões, e-mails, decisões e powerpoint, para descansar, curtir um jantar, curtir os filhos e família se tornou, hoje, um local de tudo junto e misturado. Home misturado com caos e caos misturado com home. Muitos não sabem se atendem a reunião ou se fazem o almoço. Alguns fazem ambas as coisas ao mesmo tempo, preocupados em não falar bobagem na reunião, mas também em não se queimar no fogão.

Importante parar, respirar e refletir. E respirar de novo. Profundamente. E então me vem à cabeça uma frase que uso em um de meus treinamentos: a Cultura Organizacional é criada pelos comportamentos e hábitos das pessoas que dela fazem parte. Será então que estamos cavando nossa própria cova? Vejo que nesta corrida maluca pela busca de um status, reconhecimento, atingimento de objetivos e de um salário no final do mês, que uns acabam cavando as covas dos outros e, no fim, todos acabam tendo suas próprias covas abertas... Qualquer semelhança com a forma que nossa sociedade está conduzindo nosso momento atual, sócio-político-econômico, não é mera coincidência. Você pode ampliar suas reflexões aqui para outros contextos. Somos todos parte de um mesmo sistema, e estamos, quer você queira ou não, conectados.

Mas como sair dessa espiral negativa? Como decidir não acompanhar mais a manada? Esta manada que caminha diariamente pela busca de algo que, se formos pensar e analisar de verdade, lá no fundo mesmo, me parece um tanto vazio perto daquilo que poderíamos conquistar, experimentar e viver. Está tudo bem não estar bem todo dia, mas vejo que não está tudo bem nunca estar tudo bem. Podemos sim buscar nossos objetivos, entregar nossos resultados, com qualidade e eficiência, mas também com leveza.

Você só faz aquilo que prioriza com disciplina e consciência.

Quando você não tem uma meta clara e alcançável, fica muito vulnerável para que a vida te leve para onde ela quiser e não para onde você quer. Se te falta confiança, é fundamental que você identifique tanto as forças quanto as ameaças que te rodeiam e então estabeleça um plano para cada uma delas. Como fortalecer o que já é uma fortaleza e como minimizar uma ameaça? Ficar lamentando as perdas, a fraqueza e a quantidade de ameaças só vai te afastar da sua meta e valorizar estas partes que não vão contribuir com uma transformação positiva e saudável.

Aí você pode se perguntar se temos que ser sempre fortes e se não há mesmo nenhum espaço para lamentações... Há. Sempre há. Temos, inclusive, que lembrar que reconhecer nossas lamentações, nossas dores e sentimentos e trazê-los à consciência é muito importante para a jornada de mudança, para a saída da inércia. Mas esse processo precisa ser breve. Costumo brincar que posso sim ter meus “mimimis”, mas que eles durem apenas 5 minutos. Saber identificar um “mimimi” sem importância de um outro que merece ser sim reconhecido, fará toda a diferença também. Entenda o real motivo de suas lamentações. Traga para dentro, pois o outro não tem nenhuma responsabilidade por elas. É sério isso. A grande sacada é ter consciência e poder olhar o outro de uma forma diferente. Seguir o fluxo, porém consciente do caminho que percorre, consciente dos aprendizados da jornada, do que copiar, do que aprender a fazer e a não fazer também.

Consciência e determinação são as fortalezas mais importantes neste momento. É necessário que possamos olhar sim para nossos problemas. Olhar de verdade. Analisar cada um deles.

Uma técnica que tem funcionado bastante para lidar com os problemas é a seguinte: Divida seus problemas. Não coloque todos no mesmo “caldeirão”. Escreva cada um deles em um pedaço de papel. Olhe para eles separadamente, um a um, com intervalos grandes de tempo e veja quem é maior: você ou aquele papel pequeno com um problema. Verifique quais são as ferramentas que você tem dentro de você para lidar com cada um deles. Você pode ler um livro, fazer um exercício físico, escrever mais sobre o problema, dançar, meditar e até mesmo, e simplesmente, respirar com consciência. Procure olhar seu problema pelo lado de fora. Saia do pensamento reptiliano, aquele de ataque e fuga, aquele da defesa que a manada normalmente utiliza, mas que não vai te levar para lugar nenhum diferente daquele que você já está. Lembre-se que o seu “caos sweet caos” pode até estar gostosinho, afinal é a sua zona de conforto, mas nela você não cresce, nela quem te leva é a vida e não você mesmo.

Assim, quando você se encontrar no meio desse espiral negativo, pare. Pare de novo. E de novo. E quantas vezes precisar. Procure seu próprio conforto, algo que te dê prazer, confiança e segurança, e então, através das suas ferramentas, escreva seu plano de ação, seu plano de solução para cada um dos problemas. Eles vão parecer menores depois que você parar, sair da espiral e olhar de fora. Procure aprender com seus erros e com seus problemas. Aprender já fará com que não seja mais necessário passar pelo mesmo tipo de problema em sua vida. Os desafios nos aparecem para superarmos através dos aprendizados. Desafios semelhantes nos mostram que não estamos aprendendo aquilo que devemos aprender.

Muitas vezes precisamos silenciar para ouvir a nós mesmos. Quanto que eu me acostumei ao barulho? O quanto que o silêncio me incomoda? Precisamos sair desse barulho que está nos deixando surdos. Escutamos as coisas no meio desse barulho e quando não damos conta, adoecemos. Adoecemos sem saber que estamos adoecendo, e quanto mais demorarmos para perceber, mais difícil será a cura. O não ouvir cria um sintoma, que é o desgaste. O desgaste físico, o desgaste mental. Qual o grito que você tem na garganta? Dê um basta para você mesmo! Não é um basta para os outros. Eles todos estão como você. Talvez mais ou menos conscientes. Se observe. Verifique. Sinta. Escreva. Quando somos vítimas, não conseguimos olhar as opções e então buscar as soluções. Ficamos à espera de que nos salvem. Somente nós podemos resolver nossos próprios problemas.

Meu desejo é que essa reflexão alcance muitas pessoas que hoje se sentem no meio dessa manada barulhenta e que percebam o quanto necessitam encontrar um pouco de silêncio interno. Nossa saúde necessita de qualidade, de amor, de auto respeito, de autocuidado, de diversão, de vida.

Essa semana me deparei com uma frase no Tarô da Transformação – Osho, que dizia: “Não se preocupe muito com as coisas utilitárias. Em vez disso, lembre-se sempre de que você não está vivendo para se tornar uma mercadoria (...). Você está aqui para se tornar cada vez mais vivo, mais inteligente e mais feliz.

Desejo um home sweet home e um office sweet office.


Lilian Quatrocchi

Maio/2021

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